Interior de São Paulo: crise esvazia Planos de Saúde e abarrota o SUS

A crise econômica que obriga as pessoas a deixarem os convênios médicos também sobrecarrega o SUS | Foto: Cedoc/RAC

A redução no nível de emprego tirou Planos de Saúde de 1.781 pessoas, no último ano, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), segundo balanço divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), referente a março. Nos últimos cinco anos, desde o início da crise econômica, 92.122 pessoas perderam convênios médicos e passaram a contar com o Sistema Único de Saúde (SUS), como única alternativa de assistência.

A Região fechou o trimestre com 1,34 milhão de beneficiários de Planos Médicos. De acordo com o levantamento, nove das 20 cidades da RMC reverteram a tendência de queda, e ampliaram o número de pessoas com Planos de Saúde, entre março de 2018 e março de 2019: Artur Nogueira, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Monte Mor, Paulínia, Santo Antônio de Posse e Vinhedo. Desse grupo, com exceção de Artur Nogueira e Monte Mor, as demais estão entre as que mais geraram emprego em março, segundo dados do Caged.

A maior parte das pessoas (60%) que perdeu Assistência de Planos está em Campinas. Foram 1.083 que ficaram sem convênios no período. “O ritmo de queda vem reduzindo, mas não houve uma situação capaz de reverter”, afirmou o secretário de Saúde, Carmino de Souza.

Segundo ele, dados preliminares mostram um dos reflexos da redução de Planos de Saúde: aumentou o número de consultas na Rede Básica, no ano passado, em 8%. “Saímos de 930 mil consultas em 2017 para mais de um milhão no ano passado”, informou.

“As pessoas buscam o SUS, primeiro porque é um direito, depois, por necessidade, porque sem convênio, passa a depender de consultas, medicamentos, procedimentos da Rede Pública”. A psicóloga, Tatiana Ferr, está sem Plano de Saúde há sete meses. Desempregada, pagar um plano ficou fora do seu Orçamento, e foi obrigada a cancelar. Agora precisa recorrer ao SUS, mas disse que evita, por causa das filas de espera.

“Prefiro me medicar a usar o Sistema Público de Saúde”, afirmou. O atendente, Francis Sipliano, nunca teve um Plano de Saúde porque não cabia no Orçamento. O filho tinha, mas acabou desistindo por causa dos altos valores. Assim, a única alternativa é recorrer à Saúde Pública. “A espera no SUS é grande, cheguei no hospital agora há pouco e sei que só devo sair amanhã”, afirmou.

“Há uma relação muito próxima entre as crises que temos na Saúde Pública com o desemprego e a queda no poder de compra. Quem perde emprego, perde convênios, e o único socorro passa a ser o SUS. Aí temos hospitais lotados, filas de espera nos prontos-socorros”, afirmou o economista Pedro Silvestrin.

Para o economista, a perda de beneficiários acontece em meio à estagnação da Economia neste começo de ano, aumento do desemprego e reajustes dos Planos de Saúde acima da inflação. “Trabalhadores demitidos têm direito de manter o benefício por um período de seis meses a dois anos, mas precisam assumir o custo integral do serviço. Isso custa no Orçamento Doméstico e na maioria das vezes fica inviável para as famílias”, afirmou.

Segundo a ANS, em março o setor contabilizou 47.053.184 beneficiários em Planos de Assistência Médica. Na segmentação assistencial, é verificada estabilidade em relação ao mesmo período do ano anterior.

No recorte por Unidade Federativa, 14 Estados e o Distrito Federal registraram crescimento no período de um ano, sendo São Paulo, DF, Paraná, Mato Grosso e Goiás, nesta ordem, os cinco com o maior ganho de beneficiários em Planos de Assistência Médica, em números absolutos. Os Planos de Saúde subiram, em média, 3,22%, no acumulado de janeiro a abril.

Por: Maria Teresa Costa | Fonte: Gazeta de Piracicaba